quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

15: JOE

Quando está frio, Joe vem devagar. Quando está morno, apenas olhe Joe crescer – tudo ao meu redor. Joé é aqui. Joe é agora. Joe é a tristeza que se sente quando o dia é cinza e dói. Joe é o cheiro de chuva. Joe é toda essa baixaria que é apaixonar-se. Joe é a nora que mamãe pediu a Deus. Quando alguém bate na sua porta, e você não espera ninguém, não se assuste: deve ser Joe. Só um pouco de Joe pode deixar você alegre ou feliz, como o jantar que ele está cozinhando na sua cidade natal. Joe é a galinha, Joe são os ovos. Joe está no meio das suas pernas. Joe está andando na lua, deixando seus casulos. Joe é aqui. Joe é agora. Joe é a macaxeira semiótica. Joe é o primeiro cigarro do dia. Todos sentem Joe quando estão sós. Joe é mentira. Joé é verdade. Alguém psicografou Joe. Alguém matou Joe num conversível, enquanto ele acenava para milhões de esperançosos. Joe sabe nadar. Joe tirou a virgindade da sua namorada. Joe tirou a virgindade do seu namorado. Joe não lava o pé. Joe come criancinhas. Joe é o quebra-cabeça. Joe é a névoa púrpura. Joe nunca fica em um lugar, mas Joe não é uma fase passageira. Joe está no bar dos solteiros, na distância da face. Joe está entre as gaiolas, Joe está sempre num espaço. Joe é aqui. Joe é agora. Joe é o boquete numa garrafa de Pitu. Joe é teoria. Joe é corpus. Hoje em dia não se fazem mais Joe como antigamente. Ninguém é Joe. Joe sou o que Joe és. Joe é o urso. Joe é o filho do urso. As pessoas param Joe na rua para tirar foto. Joe é um escritor cabeça. Joé é as prega de Odete. Ninguém ama Joe. Joe ama todo mundo. Joe fez greve de fome e derrotou a Inglaterra. Joe tocou uma bicicleta. Joe tem uma garagem. Qualquer rocha pode ser feita para rolar se você tiver o bastante de Joe para pagar o pedágio. Joe não tem lar nas palavras ou meta, nem mesmo no seu buraco favorito. Joe é esperança para idiota, quando você anda num cavalo sem casco. Joe é mexido, não comovido, coquetéis no telhado. Joe é José, mas podia ser Johnny, ou Frank ou Pete. Joe não é ninguém. Joe é um espinho no seu pé. Aquele cheira-cola que roubou seu relógio era Joe. Joe é o cão sem plumas. Joe não chora jamais. Joe enrabou um ciborgue e foi preso por isso. Joe inventou a roda. Joe não come ninguém. Joe é aquela culpa que você sentia quando batia punheta para sua priminha. Joe é um merda. Joe é de Racondo. Joe é a mais-valia. Joe bate primeiro e pergunta depois. Eu sou seu pai, Joe. Joe não tem fim, felicidade sim. Quem não tem cão, caça com Joe. Quando alguém quer se masturbar, pensa logo em Joe. Joe é sempre carnaval. Joe é a última dose do dia. Joe goza na cara. Joe tem medo do escuro. Joe está se fudendo até o fim. Joe é o príncipe encantado. O que Freud não descobriu: o complexo de Joe. Joe é o ópio da massa. Joe é um cara feliz agora. Quando você come bem através de Joe você vê tudo vivo. Joe está dentro do espírito com coragem o suficiente para sobreviver. Se você acha que Joe é pretensioso, você foi passado pra trás: olhe no espelho antes de você escolher decidir. Joe é aqui. Joe é agora. Joe é real. Joe é Joe.

Porque Joe já é mesmo batido e conhecido. Mas eu gosto dele.

Recife, Junho de 1988

Nenhum comentário:

Postar um comentário