O bordel de Pierre Tabaca, o puta mais chic de toda frança. Vozes entrecortam a música sincopada: num palco decorado com papel crepom, um trio de forró arrocha um avant-garde de foder. As putas no colo dos homens de bem no colo das mulheres de bem. A festa já dura 6 dias. Surrealisticamente bêbado o gigante sobre no palco com um copo de scottish whisky com gelo de água de sanitário. O copo erguido parece mais segurá-lo do que ele o copo. Um brinde a Joe:
CORONEL:
Quero propor aqui um brinde ao meu novo genro, um filho da puta (com todo respeito à sua Mãezinha) macho de verdade, o homem que limpou nossa vilazinha daqueles bandoleiros de merda, José Severino, o nosso Joe!
OS APLAUSOS:
Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê!!!
O GAIATO:
Êêêêêêmánocuêêêêêê!
JOE:
(modestamente) Meus queridos, não precisa tanto. Só fiz o que qualquer homem de bem, o que qualquer homem apaixonado faria. É, Ferreira, a minha puta ta ali encostada.
MORENA FACEIRA DOS CABELOS CACHEADOS:
(orgulhosa) Esse é meu macho.
JOE:
Cala a boca, sua vaca.
OS SÁDICOS:
Bate nela Joe, bate nela!
MORENA FACEIRA DOS CABELOS CACHEADOS:
(excitada) Bate mesmo meu nego, bate gostoso!
JOE:
(modestamente) Ok meus fãs, se vocês insistem, eu bato. Mas saibam que como qualquer ser civilizado, eu não gosto de violência sem propósito.
OS APLAUSOS:
Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê!!!
Joe agarra a noiva pelos cabelos, que geme de tesão. Dá uns tapas na cara dela, cospe e boceja. Ela pede mais. Ele chuta ela na barriga, ela se contorce de prazer. Ele apaga um cigarro no umbigo dela, ela grita, ele se anima e pisa nas costelas dela. Ela pede mais. Joe, de pau duro, dá uma cabeçada no nariz dela, uma rasteira e quebra uma cadeira nas costas dela. Eles estão quase lá. Ele arranca as unhas dela, dá marteladas nos seus ombros, marca ela com ferro quente e finaliza quebrando os dentes dela no meio-fio. Os dois gozam e se deitam abraçados no chão.
CORONEL:
(emocionado) Meus pombinhos...
PIERRE TABACA:
(afetado) Ces´t l´amour... Nosso Joê é um rapaz que gosta do que é bom...
JOE:
E você sabe o que é?
PIERRE TABACA:
Mais do que você pensa, garçon.
JOE:
E o que você vai fazer?
PIERRE TABACA:
O que você quiser, mon cherrie.
JOE:
Vem com tudo então!
Pierre Tabaca levanta a saia e aponta seu caralho gigante. Joe a principio se assusta, mas depois se rende: Pierre Tabaca o enraba como se fosse um puta qualquer. Joe resiste bravamente, mas não agüenta até o final e rejeita.
JOE:
(eufórico e ofegante) Viado filho da puta, tu não sabe é de nada!
PIERRE TABACA:
(arrogantemente) Quem não pode se morde.
JOE:
(sobe no palco e acende um cigarro) A verdade, ladies and gentlemen, é que não nasci pra transgredir. Assumo minha condição de burguês, cristão e heterossexual.
OS APLAUSOS:
Joe é nosso herói!
O PAI DE SANTO:
Axé!
O TRIO DE FORRÓ:
Djiiinnnn... zaragudêgo, baracutibum, dá! Perumpempem, baragudadodegodegoziricundegogadagoberum... diguridadiriguidu!
O NARRADOR:
Freneticamente desenrola-se a vitória. Um pequeno anão cospe fogo no céu crespo do bordel, que se delicia com a pimentez. Chovem; ou melhor, chove-se. A lucidez se esconde nos buracos dos ralos, envergonhada. The muffin man e The fool on the hill fazem um 69 em cima do colo de um crítico de arte. Ele se masturba, voyeour, até gozar e se limpa no caderno de cultura de um folhetim. As pessoas sorriem. Alguém choca ao se abrir ao contrário, mas ninguém repara. Faxineiros escorrem de rodo suor e vinho. Estouram um champanha: Joe no colo do gigante parece um boneco de ventríloquo. Pedro Noiado nóia; ele pede pra cagar e sai de fininho. As pessoas sorriem. Um grupo de escoteiros pede uma colher pra ferver heroína; eles se picam e transformam numa gosma profundamente púrpura; um pedófilo aproveita e bebe tudo. Ninguém é inocente. Agora alguém é, mas foi embora. Olhares se destroem ao se refletirem; eles só queriam alguém pra amar. Uma pomba-gira sobe no palco pra tocar violino. Isso também é dialogo.
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