quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

4: EU NÃO ACREDITO EM BRUXA, MAS QUE ELAS EXISTEM, EXISTEM

A casa era de barro, manchada de melancolia e de adeus.

De dentro vinha uma escuridão que abocanhava a música, deixando apenas o silêncio de sobra, o que tornava tudo muito bizarro. Mas Joe era cabra macho de agüentar botada de menino mais velho sem chorar nem uma lágrimazinha só. Andando na ponta dos dedos, advertido, pra não foder com o pé, chegou pertinho da sombra e gritou: ô de dentro!

Do silêncio escapou uma voz de velha medonha que nem bruxa gritando vá simbora que sinão eu te capo porra, mas Joe era cabra macho de fazer blowjob pra ganhar dinheiro pra poder comprar heroína porque ele não teme virar junkie não senhor e se manteve firme na frente da porta pra gritar de novo ô de dentro!

A bruxa notou a macheza de Joe e saiu pra ver quem era o cabra, mas quem viu foi Joe que ela não era bruxa não, e sim uma velhinha sertaneja dessas com cara de cu de tanta ruga, inofensiva inofensiva e aí Joe ficou mais quieto, porque apesar de não ser medroso nunca tinha visto bruxa real que na verdade não fosse travesti. A velhinha olhou pra Joe de cima pra baixo e disse:

- Meu filho, desculpe essa véia, mas é que aqui tá cheio de bandoleiro desordeiro covarde que entra nas casa dos fraco pra tirar os pertence dos outro...

- A sinhora me dá água?

- Ô meu filho, dô sim, mas entre aqui, chegue.

Por dentro era pior ainda. Tudo era grande, mas fodido e sujo. Joe acompanhou a velhinha até a cozinha, que só tinha uma jarra de barro grande e nada de comer. A velha pegou água da jarra de deu pro nosso herói beber, e ele se deliciou. Ai perguntou:

- A sinhora vive mais quem?

- Ah meu filho, eu vivo sozinha. Meu marido morreu faz tempo e meus filhos tão tudo em São Paulo, só que nunca me deram notícia depois que se foram. Agora a vida ta difícil porque eu num posso mais trabalhá, meu corpo num deixa mais, e eu vivo das ajuda dos outro. Mas com esses bandoleiro alarmando a região ninguém mais se atreve a vir pra cá com medo de que eles pegue e coma. A comida acabou e eu não sei mais como vou ficar, acho que só o que me resta é esperar vir o tempo de eu ir me juntar mais meu véio...

Joe ficou com muita pena da velhinha que deu água pra ele. Pensou e pensou num jeito de ajudar, mas ele não tinha nada pra oferecer, que tava tão fodido quanto ela. No fim, só conseguiu pensar no básico:

- A sinhorinha disse que seu marido morreu faz tempo.

- Disse...

- Eu não tenho nada pra oferecer, mas se a sinhorinha quiser, eu tiro seu atraso.

Os olhos da velha brilharam, e seu sorriso contraiu toda a cara enrrugada num esgar sem dentes horroroso, o que fez Joe se arrepender de ter aprendido a falar.

Joe se despediu da velhinha ainda sorridente. Foi respondendo os acenos até que eles sumiram depois de uma curva. Viu uma pedra grande, sentou e chorou. Joe era cabra macho mesmo, mas pra tudo tem limite.

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